
Para a pesquisadora Eloisa Beling Loose, “não dá para manter os discursos e a lógica que nos trouxeram até aqui”. Ela, que é coordenadora do Laboratório de Comunicação Climática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi a professora convidada para a palestra nacional de abertura do Congresso Internacional em Comunicação e Consumo 2025 (Comunicon 2025), realizado nesta semana na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.
A jornalista, que há mais de uma década investiga a interface entre comunicação e meio ambiente, propôs uma reflexão: como romper a lógica colonial que estrutura o jornalismo e a comunicação sobre o clima?
Ao longo de uma hora, Eloisa traçou um panorama que vai além do noticiário sobre desastres. Mostrou que a cobertura climática no Brasil continua centrada em efeitos (30%) e ações pró-clima (42%), enquanto as causas das mudanças climáticas aparecem em apenas 12% das matérias analisadas, e críticas à inação somam 4%. O dado destaca o que ela chama de “silenciamento estrutural” sobre as origens do problema e sobre o modelo de desenvolvimento que o sustenta.
Para Eloisa, a crise climática é também uma crise de comunicação e de imaginação. “É difícil imaginar uma sociedade diferente da atual, porque o ser humano se apega ao que lhe é familiar”, afirmou. “Mas precisamos romper com a lógica antropocêntrica e capitalista que separa o homem da natureza e transforma tudo em recurso”.
A pesquisadora criticou a crença de que “o desenvolvimento é sinônimo de crescimento econômico infinito” e lembrou que “o planeta já não tem capacidade de regeneração para sustentar essa lógica”. Segundo ela, a ideia de que a ciência ou o mercado resolverão sozinhos o problema é ilusória.
“Muitas soluções continuam presas à mesma lógica que criou a crise, o mercado de carbono é um exemplo. Ele transforma o colapso climático em oportunidade de lucro”.
A partir de uma pesquisa sobre veículos alternativos e independentes, Eloisa e o grupo de pesquisadores que coordena constataram que, mesmo fora da mídia tradicional, as práticas jornalísticas continuam colonizadas. “Há uma lógica de produção muito parecida. Os critérios de noticiabilidade e as fontes permanecem os mesmos”, disse. “Até nos veículos críticos, os povos indígenas aparecem como personagens citados, mas raramente como fontes de conhecimento”, aponta.
O predomínio do discurso de responsabilidade individual de “faça sua parte, mude seu consumo”, também mostra o peso da lógica neoliberal sobre o jornalismo ambiental. “Esse discurso desloca a culpa das estruturas econômicas e políticas para o indivíduo consumidor”, afirmou. “Mesmo quando há boa intenção, o efeito é desmobilizador”.
Comunicação desde o Sul
“Comunicar desde o Sul é questionar quem fala, de onde fala e a quem serve o discurso”, resumiu Eloisa. Para ela, pensar a comunicação climática a partir do Sul Global é reconhecer que os países e comunidades mais afetados pela crise continuam sendo os que menos têm voz. “A colonialidade do saber e do poder se manifesta quando soluções são importadas do Norte Global e apresentadas como universais como o carro elétrico, que ignora desigualdades de acesso e custo”.
A pesquisadora defende que o jornalismo climático assuma compromissos com a justiça climática e com a diversificação das vozes. Isso significa incluir sujeitos que nunca foram ouvidos: comunidades tradicionais, mulheres, populações periféricas. “Não se trata de encontrar uma nova hegemonia, mas de abrir espaço para múltiplos caminhos”, disse.

